Petiano: João Paulo Lopes da Rocha
Atualmente é muito difícil imaginar
um mundo sem os antibióticos. Antes da descoberta dos antibióticos, muitas
pessoas morriam de doenças que, hoje, não são consideradas graves.
Encontramos, ao
longo dos séculos, inúmeras definições relacionadas ao termo antibiótico. O
termo inicial era antibiose e foi proposto por Vuillemin, em 1889.
Esse termo definia o
antagonismo dos seres vivos em geral, sendo um processo no qual um organismo
produz uma substância que impede ou dificulta o crescimento de outro organismo.
O nome
antibiótico foi usado, pela primeira vez, por Waksman, em 1942, sendo
conceituado como “substância produzida por microrganismos (bactérias, fungos e
actinomicetos), antagonista ao desenvolvimento ou à vida de outros
microrganismos, em altas diluições, no meio bioquímico do nosso corpo”.
Nos dias de
hoje, os antibióticos são definidos mais amplamente, como qualquer substância
química de origem animal, vegetal ou sintética que seja antagonista do
desenvolvimento dos microrganismos. Em um sentido mais restrito, a
característica fundamental dos antibióticos é serem de origem microbiana e,
produzidos por seres vivos.
Por sua vez, as bactérias,
microrganismos alvo dos antibióticos, são organismos unicelulares,
identificadas por Van Leeuwenhoek, por volta de 1670. Porém, a patogenicidade
(capacidade de um microrganismo causar doença em um hospedeiro) de alguns
desses microrganismos só começou a ser entendida no século XIX.
Em 1860,
Joseph Lister foi o primeiro cientista a estudar o efeito inibitório de
substâncias químicas sobre as bactérias patogênicas. Lister usou fenol para
esterilizar instrumentos cirúrgicos, a fim de diminuir as taxas de morbilidade
e mortalidade das cirurgias.
Em 1877,
Louis Pasteur e Jules Joubert reconheceram o potencial clínico dos
produtos microbianos como agentes
terapêuticos. Demonstraram assim, que algumas linhagens de bactérias eram
importantes para processos de fermentação e possuíam uma ampla distribuição no
meio ambiente.
Foi então que começaram a estabelecer-se duas correntes de investigação
baseada em modelos conceituais distintos. A primeira, embasada nos estudos de
Pasteur e Jules Joubert, procurava encontrar uma terapêutica para as infecções
bacterianas, através do reforço de defesas naturais. A outra, inspirada nas
ideias de Lister, buscava encontrar uma substância que, sem agredir o organismo
humano, fosse capaz de destruir as bactérias patogênicas.
Paul Ehrlich baseava seus estudos nas ideias de Lister e objetivava com suas pesquisas encontrar uma substância química perfeita que atuasse seletivamente sobre as bactérias como se fosse uma “bala mágica”.
Em 1909,
Ehrlich testou o composto de número 606 da sua série de compostos e viu que ele
era ativo contra o treponema, agente patogênico causador da sífilis. A droga
posteriormente recebeu o nome de Salvarsan e foi amplamente comercializada até
1940. Porém, a bala não era tão mágica assim. Apresentava resultados modestos e
possuía efeitos colaterais graves. Mas, representava um sinal claro de que as
pesquisas estavam no caminho certo.
Ehrlich
formulou ainda outra hipótese que, mais tarde, inspirou outros pesquisadores.
Tudo começou com a constatação que alguns corantes, como o azul de metileno,
quando injetados em organismos vivos, eram captados por alguns tecidos e outros
não. Por mostrar essa afinidade e sabendo-se que muitos deles eram tóxicos, foi
lógico pensar que existiriam corantes específicos com afinidade especial para
estruturas bacterianas.
Domagk,
influenciado pelas obras de Ehrlich, conseguiu obter, após anos de
experimentos, os primeiros resultados positivos, em 1932. Por motivos de
patente, a nova substância só foi registrada em 1935 e recebeu o nome de
Prontosil. Concretizava-se assim o sonho da “bala mágica”, já que a droga era
eficaz no controle de várias infecções e não apresentava efeitos colaterais
significativos.
Contudo,
pouco tempo depois, investigadores do Instituto Pasteur, afirmaram que o efeito
não dependia da substância corante, mas do radical Sulfonamida que, ao
separar-se, no organismo, da molécula de Prontosil, ficava livre para atuar
sobre as bactérias. A sulfonamida revelou grande eficácia contra algumas bactérias
patogênicas como estreptococos, pneumococos, meningococos e gonococos, surgindo
assim o grupo terapêutico das sulfonamidas.
Alexander
Fleming, médico e bacteriologista escocês, voltou da primeira guerra mundial
disposto a reduzir o sofrimento dos soldados que tinham suas feridas
infectadas, impondo dor e, muitas vezes, acelerando o processo em direção à
morte. Dedicou-se então em 1928, a estudar a bactéria Staphylococcus aureus responsável pelos abcessos em feridas abertas
provocada por armas de fogo.
Focou tanto
em suas pesquisas que, um dia, exausto, resolveu se dar férias. Saiu do
laboratório deixando suas culturas de bactérias sem supervisão. Quando
retornou, notou que algumas de suas culturas tinham sido contaminadas por um
fungo. Ao olhar no interior do vidro, percebeu que onde tinha se formado o
bolor, não havia Staphylococcus em
atividade.
Fleming
concluiu, com suas observações, que o mofo oriundo do fungo Penicillium,
agia secretando uma substância que era responsável por matar as bactérias.
Assim, ainda que por acaso, estava criado o primeiro antibiótico da história da
humanidade.
A descoberta de Fleming revolucionou o mundo e contribuiu
para o surgimento de uma grande indústria que passou a fabricar penicilina e
outros antibióticos responsáveis por proporcionar a cura para muitas pessoas
que sofriam com tuberculose, pneumonia, meningite, sífilis e outras infecções.
Em 1940, a penicilina foi usada no primeiro paciente humano,
um policial, vítima de grave infecção sanguínea. O mundo passava então a
desfrutar de uma arma vital à favor da vida e da existência.
Entre as
décadas de 1940 e 1970, diversos novos antibióticos foram lançados no mercado,
como a tetraciclina, eritromicina, gentamicina e vancomicina. Esse período foi
muito importante para a humanidade e ficou conhecido como a “Era de ouro dos antibióticos”.
Desde o fim
da era de ouro, poucos antibióticos foram lançados no mercado. Embora muitos
tenham sido descobertos, vários deles não apresentaram utilidade clínica, ou
por serem muito tóxicos ou por não serem absorvidos completamente pelo
organismo humano. Com isso, a estratégia que vem sendo utilizada por
pesquisadores, desde a década de 1990, é modificar a estrutura química dos
antibióticos já existentes, para que eles tenham atividade aprimorada contra as
bactérias.
Se, por um
lado, os antibióticos solucionaram graves problemas de infecções, por outro,
foram os principais responsáveis pelo surgimento das superbactérias. As
superbactérias são bactérias resistentes a antibióticos e representam,
atualmente, uma das principais ameaças à saúde pública mundial. Infecções por
essas bactérias estão se tornando cada vez mais comuns, sendo que algumas são
resistentes à praticamente todos os antibióticos existentes.
À medida que
as bactérias foram sendo expostas aos antibióticos elas começaram a desenvolver
alguns mecanismos de defesa para garantir a sua sobrevivência e reprodução.
Esses mecanismos podem ser transferidos de uma bactéria para outra. Quando uma
bactéria adquire vários desses mecanismos e resiste a uma variedade de
antibióticos, ela se torna uma superbactéria.
Os primeiros
casos de infecções causadas por bactérias resistentes à penicilina foram
identificados poucos anos depois do início de sua utilização. O mesmo aconteceu
com os outros antibióticos lançados nos anos seguintes.
A
Organização Mundial da Saúde estima que, se nada for feito para controlar essas
superbactérias, até 2050, elas serão responsáveis por 10 milhões de mortes por
ano no mundo.
A resistência das bactérias aos antibióticos é um problema de
saúde mundial, tendo como principais causas a automedicação, o uso prolongado
de antibióticos e a falta de higienização.
As infecções
bacterianas não são combatidas apenas com o uso de antibióticos. Essas
infecções podem ser prevenidas, por exemplo, pelo preparo correto dos
alimentos, higienização correta das mãos, vacinação e higienização por parte
dos profissionais de saúde. Ou nos conscientizamos agora, frente a esse
problema mundial ou iremos enfrentar consequências que não serão mais
resolvidas com compostos “mágicos”.
Referências:
- ESCOLA, Equipe Brasil. A HISTÓRIA DOS ANTIBIÓTICOS. 2014. Disponível em: https://monografias.brasilescola.uol.com.br/biologia/a-historia-dos-antibioticos.htm. Acesso em: 20 out. 2020.
- GUIMARÃES, Denise Oliveira; MOMESSO, Luciano da Silva; PUPO, Mônica Tallarico. Antibióticos: importância terapêutica e perspectivas para a descoberta e desenvolvimento de novos agentes. Scielo, São Paulo, v. 3, n. 33, p. 1-6, 14 out. 2010. Semanal. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422010000300035&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 20 out. 2020.
- BRAS, J.. Alexander Fleming e a descoberta da penicilina. Scielo, Rio de Janeiro, v. 45, n. 5, p. 1-1, 14 out. 2009. Semanal. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-24442009000500001#:~:text=Alexander%20Fleming%20e%20a%20descoberta%20da%20penicilina&text=De%20volta%20ao%20St.,provocadas%20por%20armas%20de%20fogo.. Acesso em: 20 out. 2020.
- PADILLA, Gabriel. Patogênese Bacteriana: os mecanismos da infecção. Os mecanismos da infecção. 2017. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4128790/mod_resource/content/1/Patogenicidade%202017.pdf. Acesso em: 20 out. 2020.
- SANTOS, Helivania Sardinha dos. SUPERBACTÉRIAS: origem, como tratar. origem, como tratar. 2019. Disponível em: https://www.biologianet.com/doencas/superbacterias.htm. Acesso em: 20 out. 2020.
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