PET Biologia UFV

PET Biologia UFV
Programa de Educação Tutorial - Biologia UFV

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Petiana: Ana Clara Aguiar

No último sábado, 31 de outubro de 2020, o grupo PET biologia da UFV se reuniu para discutir as problemáticas envolvidas no documentário “o renascimento do parto”, lançado em 2013 pela masterbrasil filmes. O filme retrata a grave realidade obstétrica mundial e, sobretudo, brasileira, que se caracteriza por um número alarmante de cesarianas ou de partos com intervenções traumáticas e desnecessárias.

O documentário retrata esse período da modernidade tardia, em que tais práticas resultam em transformar mulheres em parturientes fragilizadas e incapazes, acreditando que necessitam de auxílio para alcançar o nascimento de seu/sua filho/a, negando sua própria capacidade de parir e provocando a diminuição das suas potencialidades.

Esta reflexão se justifica pelo fato de eventos vitais como o nascimento estarem fundamentados em um modelo centrado na tecnologia médica, favorecendo a criação de uma cultura da cesariana, em que sintomas comuns ou fatores ordinários se tornaram motivos para a escolha do ato cirúrgico. A assistência ao parto no Brasil ainda se caracteriza por atitudes processuais mediadas pelas modulações culturais, e são impostas intervenções convenientes aos saberes e práticas instituídas pelo campo biomédico.

A realização rotineira de cirurgias cesarianas provoca o isolamento da gestante de seus familiares, interfere negativamente nos cuidados com o recém-nascido e expõe a saúde materna e fetal a riscos, tornando-se um procedimento abusivo e dificultando a adoção de condutas de humanização neste processo. A mulher passa a ser submetida a rotinas rígidas e mecanizadas que são adotadas sem a avaliação crítica caso a caso(3). Portanto, o uso elevado da cesariana pode causar mais prejuízos do que benefícios maternos e/ou fetais.

Em relação às cirurgias cesarianas realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), aponta-se aumento de 38,3% em 2001 para 55,15% em 2014. A partir desse índice, infere-se que o Brasil vive uma epidemia de cesáreas eletivas.

Durante a Idade Média o parto era entendido como o principal papel da mulher, e decretos religiosos proibiam a presença masculina no cenário de nascimento, tornando-o uma atividade exclusivamente feminina. Inicialmente, as parturientes recebiam cuidados empíricos de mulheres que eram consideradas feiticeiras e curiosas. Entretanto, com o passar do tempo, esse tipo de comportamento foi modificado pelo homem. A figura masculina surge na história do parto com a introdução da obstetrícia como ciência, trazendo consigo a implantação do parto horizontal e da episiotomia.

A partir da consolidação do parto hospitalar, a medicalização desse evento resultou na perda da autonomia da mulher como guia do seu processo de parir, deixando que esse acontecimento fisiológico e vital fosse marcado pelo uso abusivo de práticas invasivas, muitas vezes desnecessárias. Essas condições acabaram resultando em situações de opressão, seja pela medicalização do corpo feminino ou pelo não reconhecimento de seu protagonismo nesse processo. “A gente não consegue mais ter o parto de nossas mães e avós. Não conseguimos mais fazer aquilo que antes era normal! ”. (Mariana Carvalho, mãe e gestora pública).

            O questionamento final da produção é de que qual o futuro da geração que nascerá de cesarianas ou pelo uso de ocitocina (hormônio do amor) sintética?

O parto não é só um ato fisiológico que começa com as contrações e termina com a saída do bebê e da placenta. Ele é, acima de tudo, um verdadeiro ritual de iniciação, de passagem não só para a mãe, mas também para toda a família e para o bebê que participa ativamente dessa experiência e sai mais forte dela (Érica de Paula – Doula).





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