Petiana: Ana Clara Aguiar
No último sábado, 31 de
outubro de 2020, o grupo PET biologia da UFV se reuniu para discutir as problemáticas
envolvidas no documentário “o renascimento do parto”, lançado em 2013 pela
masterbrasil filmes. O filme retrata a grave realidade obstétrica mundial e,
sobretudo, brasileira, que se caracteriza por um número alarmante de cesarianas
ou de partos com intervenções traumáticas e desnecessárias.
O documentário retrata esse período da modernidade
tardia, em que tais práticas resultam em transformar mulheres em parturientes
fragilizadas e incapazes, acreditando que necessitam de auxílio para alcançar o
nascimento de seu/sua filho/a, negando sua própria capacidade de parir e
provocando a diminuição das suas potencialidades.
Esta reflexão se justifica pelo fato de eventos vitais
como o nascimento estarem fundamentados em um modelo centrado na tecnologia
médica, favorecendo a criação de uma cultura da cesariana, em que sintomas
comuns ou fatores ordinários se tornaram motivos para a escolha do ato
cirúrgico. A assistência ao parto no Brasil ainda se caracteriza por atitudes
processuais mediadas pelas modulações culturais, e são impostas intervenções
convenientes aos saberes e práticas instituídas pelo campo biomédico.
A realização rotineira de cirurgias cesarianas provoca o isolamento da
gestante de seus familiares, interfere negativamente nos cuidados com o
recém-nascido e expõe a saúde materna e fetal a riscos, tornando-se um
procedimento abusivo e dificultando a adoção de condutas de humanização neste
processo. A mulher passa a ser submetida a rotinas rígidas e mecanizadas que
são adotadas sem a avaliação crítica caso a caso(3). Portanto, o uso elevado da cesariana pode causar mais prejuízos do que
benefícios maternos e/ou fetais.
Em relação às cirurgias cesarianas realizadas pelo Sistema Único de
Saúde (SUS), aponta-se aumento de 38,3% em 2001 para 55,15% em 2014. A partir
desse índice, infere-se que o Brasil vive uma epidemia de cesáreas eletivas.
Durante a Idade Média o parto era entendido como o principal papel da
mulher, e decretos religiosos proibiam a presença masculina no cenário de
nascimento, tornando-o uma atividade exclusivamente feminina. Inicialmente, as
parturientes recebiam cuidados empíricos de mulheres que eram consideradas
feiticeiras e curiosas. Entretanto, com o passar do tempo, esse tipo de
comportamento foi modificado pelo homem. A figura masculina surge na história
do parto com a introdução da obstetrícia como ciência, trazendo consigo a
implantação do parto horizontal e da episiotomia.
A partir da consolidação do parto hospitalar, a medicalização desse
evento resultou na perda da autonomia da mulher como guia do seu processo de
parir, deixando que esse acontecimento fisiológico e vital fosse marcado pelo
uso abusivo de práticas invasivas, muitas vezes desnecessárias. Essas condições
acabaram resultando em situações de opressão, seja pela medicalização do corpo
feminino ou pelo não reconhecimento de seu protagonismo nesse processo. “A gente não consegue mais ter o parto de
nossas mães e avós. Não conseguimos mais fazer aquilo que antes era normal!
”. (Mariana Carvalho, mãe e gestora pública).
O questionamento final
da produção é de que qual o futuro da geração que nascerá de cesarianas ou pelo
uso de ocitocina (hormônio do amor) sintética?
O parto não é só um ato
fisiológico que começa com as contrações e termina com a saída do bebê e da
placenta. Ele é, acima de tudo, um verdadeiro ritual de iniciação, de passagem
não só para a mãe, mas também para toda a família e para o bebê que participa
ativamente dessa experiência e sai mais forte dela (Érica de Paula – Doula).
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