Você já pensou como aconteceram as descobertas que revolucionaram a forma de enxergar os primatas no nosso mundo?
O documentário “Jane: A Mãe dos Chimpanzés” lançado em 2017, pela National Geographic, traz um pouco da perspectiva da evolução do pensamento comportamental dos chimpanzés e a relação deles com os humanos. E no último sábado, dia dez (10) de outubro de 2020, o grupo PET Biologia da UFV se reuniu para discuti-lo.
A biografia se prende à história de Jane Goodall, uma jovem amante da natureza que embarca em uma expedição para observar os chimpanzés em Gombe, na Tanzânia. Louis Leakey, paleoantropólogo de quem Jane era secretária pessoal, queria entender um pouco mais sobre as relações que assemelhavam os outros grandes primatas e os humanos de uma forma mais pura e sem pré-conceitos. Então, em 1960, envia Jane, que, até então, não tinha uma formação científica ou experiência acadêmica, ao Parque Nacional de Gombe para observar os chimpanzés.
Ao longo do seu primeiro ano de observação, Jane se esforçava para encontrar os grupos de primatas e tentar se aproximar de uma forma natural. A ausência do viés científico é perceptível a todo momento, pelo modo com a jovem mulher trata os chimpanzés e interage com eles, sem medo de enxergar neles características totalmente humanas e tratá-los a pé de igualdade, dando nome e descrevendo personalidades distintas a cada indivíduo.
Após se considerar parte do bando, Jane passava maior parte do tempo observando comportamentos que nunca haviam sido registrados antes. Contribuiu para as descobertas de que os chimpanzés eram onívoros, que cometiam canibalismo, sobre as estruturas bem organizadas dos bandos, entre outros aspectos. Na época de suas observações, as mais polêmicas foram a modificação de objetos e a utilização destes como ferramenta e uma possível guerra civil desenvolvida entre dois grupos distintos.
E qual é o impacto dessas observações?
Durante as discussões do grupo, um dos principais pontos levantados foi como podemos criar um paralelo entre a forma humanizada como Jane enxergava os chimpanzés e se alguns dos comportamentos observados nesses animais poderiam ser explicados pelo instinto.
Por muitas vezes, houveram opiniões divergentes e complementares, mostrando que mesmo cientificamente, o assunto “mente e emoções” em animais não-humanos é um assunto delicado e sem um consenso. Mesmo a área da etologia, que estuda o comportamento animal, pode não ter as respostas para certos padrões, restando apenas a oportunidade de construir hipóteses sobre o que se vê observa.
Um ponto inegável presente nas discussões é o papel das observações de Jane para as ideias evolucionistas, posto que já se sabia sobre a proximidade entre os outros grandes primatas e os seres humanos. Na percepção do grupo, alguns comportamentos que a primatologista observou enquanto vivia com os grandes macacos, de início, a fez pensar que os chimpanzés eram como os humanos, mas mais gentis.
E com o tempo, o crescimento de comportamentos violentos por membros do bando, a jovem mulher passou a afirmar com mais veemência a semelhança entre as duas espécies, dando ao campo da evolução ainda mais pistas sobre os caminhos que nos diferenciou dos demais animais.
A escolha de Leakey por uma pessoa sem formação científica, também chamou muito nossa atenção, pois além da forma de tratar os chimpanzés, isso se refletia e podia ser visto no comportamento de Goodall, que não se preocupava com os cuidados que aprendemos tão logo entramos no curso, correndo risco e interferindo diretamente no núcleo de seu estudo.
A discussão sobre os conceitos reforçados pelas descobertas mostradas no filme intercalava-se com as técnicas de produção do filme, que usou imagens reais produzidas pelo fotógrafo e ex-marido de Jane, Hugo van Lawick como parte de um acordo de financiamento por parte da National Geographic aos estudos com chimpanzés. Essas imagens permaneceram guardadas por anos, até que ela autorizasse a reprodução narrada por ela mesmo.
O assunto evolução e comportamento animal que transpassa o filme de forma sútil gerou uma discussão proveitosa e necessária para que cada vez mais possamos nos enxergar como parte do todo, o meio ambiente, e possamos respeitar mais os outros animais com que partilhamos esse todo!
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