PET Biologia UFV

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Programa de Educação Tutorial - Biologia UFV

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Seminário - Uma "aumizade" de longa data: a seleção artificial na domesticação e a evolução dessa convivência

 Petiano: Luís G. F. Oliveira

    Com a publicação do livro "A origem das espécies", em 1859, Charles Darwin revolucionou o estudo sobre a Evolução, a partir, primordialmente, do conceito de seleção natural, que se baseia na sobrevivência de indivíduos mais aptos ao ambiente.

    Em contrapartida, temos o processo de seleção artificial, que difere do anterior pela interferência humana, seja ela intencional ou não. Ao contrário do que muitos pensam, não há, necessariamente, o envolvimento da engenharia genética neste processo.

Fonte: Robert Hillman/Dreamstime.com

    Um exemplo de seleção artificial são os cães braquicefálicos, que possuem a cabeça “curta” e o focinho achatado. Esses animais possuem o sistema respiratório comprometido, proveniente de acasalamentos consanguíneos. Por isso, seria improvável que eles conseguissem sobreviver em um ambiente natural que exigisse uma respiração eficaz.

    Nos últimos dois séculos, a América do Norte e a Europa foram os pioneiros na criação dos pugs, boxers e buldogues (francês e inglês). A interferência humana, nesses casos, se deu por meio da seleção dos parceiros sexuais de uma mesma raça, a fim de manter um padrão estético de crânio pequeno. Esse nivelamento, para a humanidade, foi um sucesso. Para os pequenos, nem tanto.

Fonte: Pixabay

Uma visita ao passado

    A história da domesticação e seleção artificial de cães começa há cerca de 10 mil anos, quando se desenvolveu a agricultura (Revolução Neolítica). Com isso, o ser humano começou a se tornar sedentário e a relação homem-lobo (o ancestral dos cães) se estabeleceu.

    Estudos moleculares indicam que o cão como o conhecemos hoje é um descendente do lobo cinza e existem diversas teorias sobre como foi o primeiro contato dos homens com os lobos. Algumas delas sugerem que lobos menos medrosos teriam entrado em contato com grupos nômades, em busca de alimento. Os homens, então, perceberam que era vantajoso ter alguns desses animais por perto, pois a presença dos mesmos reduzia as chances de invasão por outros animais e afastavam outras tribos humanas.

Alexandre Jubran/Superinteressante

E hoje?

    Nos dias atuais, além do aperfeiçoamento das supostas primeiras funções que os cães desempenharam, nossos amigos caninos têm sido grandes ajudantes na melhora da qualidade de vida de muitos humanos. Eles podem ser utilizados, por exemplo, na área policial, em terapias e até mesmo como assistentes.

    Segurança: Com o treinamento apropriado, muitos cães têm importância significativa na área policial, devido ao seu olfato aguçado, inteligência e personalidade, particularmente, o pastor alemão, pastor belga e labrador retriever. Os cães policiais já são parte integrante de várias equipes policiais, atuando na busca por drogas, pessoas desaparecidas e até mesmo, fugitivos.

Foto por bantersnaps/Unsplash


Atividade, Educação e Terapia assistida por cães

    O uso de animais domésticos no tratamento de doentes teve início em 1792, na Inglaterra, tendo sido primeiramente proposto por Willian Tuke, que defendia o tratamento humanizado de pacientes com transtornos mentais. Isto lhe rendeu fama mundial.

    Hoje, com a Terapia Assistida por Animais (TAA), os cães têm sido usados como auxiliares no processo de reabilitação de pacientes.

    “O paciente sente um grande bem-estar com a presença dos cães [...]. Vemos benefícios físicos, mentais, emocionais e sociais. A presença dos animais aumenta a capacidade motora, melhora o sistema imunológico, diminui os sintomas da depressão, reduz a ansiedade e baixa a pressão sanguínea. [...] Podemos dizer que o animal é uma grande fonte de prazer que movimenta os hormônios do bem" - Roberta Araújo, coordenadora do projeto "Pêlo Próximo”, que atua no Rio de Janeiro com enfoque na "Cachorro terapia”

Projeto “Pêlo Próximo” - Divulgação

Cães assistentes

    Os cães assistentes são aqueles que possuem personalidade ideal (dóceis, calmos) para auxiliar o dono, que, geralmente, possui alguma deficiência física ou motora. São divididos de acordo com a função que exercem:

    Cães de serviço: auxiliam as pessoas com deficiência física ou algum tipo necessidade especial e recebem diferentes treinamentos, de acordo com a necessidade do dono.

    Os cães para autistas, por exemplo, são treinados para reconhecer e interromper comportamentos auto prejudiciais e colapsos emocionais, tais como crises de ansiedade e de agitação. Nesses casos, o contato do cão com a criança ou adulto atua como calmante.

    Já os cães para diabéticos avisam quando há grandes variações do índice glicêmico, através do cheiro que a pessoa exala.

    Cães guias: auxiliam os donos cegos em aspectos relacionados à mobilidade, segurança e independência.

    Cães ouvintes: ajudam na identificação de sons (telefone, campainha, alarmes) e avisam, por contato físico, a pessoa com deficiência auditiva.

Cão-guia. Foto por Henrique Almeida-UFSC

Cão-ouvinte. Foto: Centro de Adestramento Canino

Vale da Neblina / Facebook

Um projeto bom pra cachorro!

    O Cão Inclusão é um projeto brasileiro, ainda pouco conhecido, que atua no treinamento e disponibilização de cães assistentes, com foco em cães de serviço para cadeirantes.

    Para saber mais sobre esse projeto incrível, basta acessar o site: caoinclusao.com.br

 


Um outro ponto de vista

    Para os cães de pequeno porte, contudo, a relação homem-cão nem sempre é vantajosa, pois, nesse caso, o comércio de cães tem como principal atrativo a “aparência” e, para conseguir manter o padrão racial, normalmente, são realizados acasalamentos consanguíneos. Esse tipo de cruzamento possui consequências graves para a saúde dos cães, já que a prevalência de doenças genética pode ser superior a 50%.

    Cães de pequeno porte e, em especial, os que sofrem de nanismo, têm dificuldade em realizar atividades físicas e são mais propensos a fraturas, além de sofrerem, muitas vezes, de doenças internas, como pancreatite, o que afeta diretamente a qualidade de vida dos mesmos, alterando aspectos comportamentais.

    Os braquicefálicos, como exemplificado inicialmente, são acometidos por problemas respiratórios. Com isso, a expectativa e qualidade de vida deles são drasticamente reduzidas.

Fonte: vídeo Dwarf Dog MikeyGus Will Melt Your Heart –

Beastly, YouTube

Conclusão

    Percebe-se, dessa forma, que além da relação homem-cachorro ser de longa data, esses caninos ainda têm grande impacto na sociedade moderna, em especial neste momento de isolamento social em que vivemos. Ademais, o tempo dirá se essa amizade será fortalecida ou acabará.

    "Você pode dizer qualquer coisa idiota a um cão, que ele vai olhar pra ti e dizer: 'Meu Deus, você está certo! Eu nunca teria pensado nisso!'" (Dave Barry)





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