Para o pesquisador Chris Adami, a reprodução sexuada melhora a
rapidez de resposta da população a mudanças no ambiente. Segundo ele, a
evolução pode ser entendida como a capacidade de aprender e acumular
“informações” para sobreviver. Logo, o processo de aprendizado é otimizado pelo
compartilhamento dessas “informações genéticas”. Outros autores apontam esse
compartilhamento de informações como crucial para a manutenção dos organismos
multicelulares, pois, implica na variabilidade genética e em outras vantagens,
que serão apresentadas a seguir.
Em experimentos, se observou que machos de pererecas (Hyla versicolor) parasitados possuíam dificuldade em emitir o chamado nupcial e assim tinham suas chances de acasalamento reduzidas. Machos de galinhas selvagens (Gallus gallus), por sua vez, quando parasitados possuíam cristas menores que a média populacional e o mesmo acontecia, ou seja, eles possuíam menor sucesso em atrair fêmeas.
Essa relação permite inferir que relações ecológicas como o
parasitismo, também exercem pressão seletiva sobre os animais. Isso pode
parecer óbvio, mas, essas relações foram ignoradas por teorias
evolucionistas. Uma das primeiras
hipóteses evolucionistas a considerar essas relações foi a da “Rainha Vermelha.
Portanto,
de acordo com a Hipótese da Rainha Rainha, supostamente haveria uma compensação
de ganho e perda de valor adaptativo entre as espécies, devido as limitações de
alimentação, água, parceiros e relações de predação e parasitismo. Essas
limitações evitariam o crescimento exponencial de uma espécie e assim, a
sobrecarga do ambiente.
Por exemplo, os parasitas infectam hospedeiros suscetíveis
e causam sua morte ou redução de valor adaptativo. Isso seria balanceado pelo
favorecimento da reprodução de indivíduos imunes ou não infectados. Logo, de
acordo com a hipótese da Rainha Vermelha haveria uma pressão seletiva tanto
sobre os parasitas quanto sobre os hospedeiros, promovendo um equilíbrio.
A hipótese Rainha Vermelha foi
considerada viável para explicar a origem e manutenção da reprodução sexuada
pelos autores William D. Hamilton et al. (1990). Eles realizaram simulações de
cruzamentos dentro de uma população virtual por meio de modelos matemáticos,
que são simplificações do que aconteceria na realidade. Houve uma coincidência
entre a presença de parasitismo e reprodução sexuada.
Os autores interpretaram como uma
relação direta entre a presença de parasitismo e reprodução sexuada e, para
eles, seria a comprovação de que a pressão seletiva gerada pelo parasitismo
seria forte o suficiente para manter e, provavelmente, originar essa reprodução.
Entretanto,
esse experimento foi contestado. O modelo matemático usado no experimento era
muito simples. Ao utilizar modelos mais complexos não foi detectado uma relação
direta como a vista por Hamilton. Isso mostrou que o parasitismo sozinho não
exerceria a pressão seletiva necessária para a manutenção da reprodução, por
consequência, a hipótese da Rainha Vermelha também foi contestada.
Apesar dessa contestação, a hipótese
da Rainha Vermelha foi importante para a evolução dos estudos sobre a origem da
reprodução sexuada, por considerar os fatores bióticos. Em 2017, a pesquisadora
Maurine Neil, em uma revisão ressaltou o efeito das mutações danosas e a
presença de parasitas como possíveis motivos para a manutenção da reprodução
sexuada, o que reafirma o potencial da referida Hipótese.
Além da Hipótese da Rainha Vermelha,
outras teorias e hipóteses foram propostas para tentar explicar a origem e
manutenção da reprodução sexuada. Porém, até hoje, ainda existem várias lacunas
sobre o tema e, mais estudos são necessários para se avaliar “todos” os fatores
envolvidos neste processo.
Logo, a reprodução sexuada oferece
vantagens importantes para a manutenção dos organismos multicelulares,
permitindo a eles responderem a mudanças do ambiente, de maneiras específicas.
Sua origem e manutenção não são completamente elucidadas. A hipótese da Rainha
Vermelha, apesar de considerar fatores bióticos como fontes de pressão
seletiva, não é suficiente para explicar este processo. Assim, outros estudos
são necessários para se concluir quais forças seletivas estão envolvidas na a
origem e manutenção da reprodução sexuada.
Referências principais:
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· WAIZBORT, Ricardo et al. Origens do(s) sexo(s) e a rainha dos problemas da biologia evolutiva. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, Londrina, ano 2, v. 39, n. ., ed. ., p. 171-180, 2018. DOI 10.5433/1679-0367.2018v39n2p171.
Disponível em:
http://www.uel.br/revistas//uel/index.php/seminabio/article/viewFile/34061/24767.Acesso em: 19 ago. 2020
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